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Produção Cultural:
Entrevista Paulo Almeida

por Marcos Lacerda

A Revista Uma Canção busca abrir espaços e diálogos não só com músicos e compositores, como também com agentes da cadeia produtiva da música. Nesta primeira edição, para a seção dedicada a Produção Cultural, Marcos Lacerda conversou com Paulo Almeida, editor e produtor cultural.

Marcos Lacerda (ML): Quando começaram os seus trabalhos no âmbito da produção cultural?

Paulo Almeida (PA): Comecei meio que por acaso... Sou bacharel em Direito, advogava, tinha o meu escritório, mas estava completamente insatisfeito com a profissão. Entramos muito jovens nas faculdades, cheios de sonhos, cheios de certezas... e aí, de repente, o mundo se abre com toda sua esplendorosa maldade. Comigo foi assim, me vi obrigado a defender causas que não acreditava, me vi no meio de um mecanismo corrupto e extremamente burocrático... Foi um choque muito grande.

E então, eu já tinha muitos amigos na área cultural, estudava música na escola Villa-Lobos, e meu escritório passou a ser um ponto de encontro dessa galera. Quando dei por mim, já estava fazendo produção. Estava recém casado com a Karla Pessôa, que estudava música comigo, e acabamos focando em mais aquela sociedade. Isso foi em 1998.

ML - Qual a relação que você vê entre a produção cultural e a mediação crítica?

PA - Acho que o produtor cultural tem que ser responsável pelo que entrega. A pergunta é muito interessante e é preciso esclarecer algumas coisas antes de respondê-la. Há pelo menos três funções que recebem o nome de 'produtor', que acabam se confundindo. Tomemos como exemplo a produção de um disco. Tem o produtor executivo, que é o cara que faz a coisa acontecer. É ele quem cuida de todos os detalhes para que uma produção aconteça: cronograma, orçamento, contratações etc. Tem o produtor artístico, que é o cara que vai dar forma àquele trabalho. É ele quem vai sentar com o artista e "desenhar" aquele disco, passando pelo repertório, pelos músicos que acompanharão, pela concepção da capa e fotos de divulgação, etc. E tem ainda o produtor musical, que é o cara do estúdio. O cara que vai ficar ligado nas questões técnicas todas e entregar o trabalho da pré-produção à prensagem. Então, o produtor artístico é o cara da criação. Às vezes, o próprio músico assume essa função.

ML - O bom produtor cultural pode ser considerado também como um curador? Em outras palavras, a produção cultural é também um trabalho de curadoria?

PA - Sim, claro. Acho que acabei falando sobre isso na resposta acima.

ML - Certo, mas e no âmbito da canção brasileira, qual o papel que tiveram os melhores produtores culturais? Você poderia citar nomes de produtores ou produtoras culturais que considera que tiveram um papel fundamental?

PA - Eu não consigo imaginar a indústria musical brasileira, por exemplo, sem a figura do André Midani, saca? Produtor artístico do mais alto gabarito, inteligente, sensível... Esse cara foi imenso. É preciso que se escreva mais sobre ele. Com medo imenso de deixar muita gente boa de fora, não fujo da responsabilidade de citar alguns contemporâneos aqui: Memeca Moschkovich, Soninha Nunes, Valéria Colela, Luciana Pegorer, Karla Pessôa, Marise Lima, Leonardo Salomão, as meninas da Baluarte, Thiago Salles.

ML - E atualmente, quais os projetos que vêm desenvolvendo?

PA - Estou começando a trabalhar num selo editorial inteiramente dedicado à música brasileira. Faremos nossa estreia no segundo semestre, com um livro sobre o pensamento crítico de Mario de Andrade, organizado por Luis Augusto Fischer. Edito também, junto com outros quatro editores, os Cadernos de Música, livros de assinatura sobre nomes da música popular brasileira. E produzo o músico e compositor Thiago Amud. Aliás, estamos no meio da produção de seu quarto disco.

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